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O que é a União Europeia?

Posted: 08/06/2010 in Análise
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A bolsa está a atravessar uma fase difícil? Está, mas apenas por culpa das próprias empresas que nela estão cotadas, digo, dos accionistas dominantes que fixam as remunerações dos corpos gerentes, cargos ocupados por eles próprios ou por indivíduos que escolhem.

Como é que um (potencial) pequeno investidor pode acreditar que o seu dinheiro terá aí uma rentabilidade desejável, se uma parte da riqueza criada e que serviria para remunerar o capital aplicado é usada para pagar prémios milionários a meia dúzia de gestores, que hão-de pagar bem, adivinho, a quem os mantém nos cargos que ocupam. Se fosse utilizada para pagar condignamente aos empregados criadores da riqueza, e em grande parte pequenos accionistas, e aos donos (capitalistas) do capital investido, ainda se podia compreender. Assim, não vejo como os cativar. Por isso, fugiram ou estão em fuga à medida que vão tomando consciência de que o dinheiro, que tanto lhes custou a ganhar ao longo de uma vida de trabalho, não está a ser bem aplicado e não lhe traz a rentabilidade esperada; de que não podem acompanhar as actividades das sociedades, de que são accionistas, porque as suas posições modestas não o justificam ou porque, simplesmente, os estatutos lhe vedam esse acompanhamento. Os nacionais e os estrangeiros. Da nossa e de todas as outras.

Investimentos? Não existem.

Melhoria das condições de empregabilidade? Também não.

Dividendos? Miseráveis, quando são distribuídos.

Recorrente financiamento através da emissão de mais acções.

Logo…

Números

Posted: 06/01/2010 in Análise
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O texto não é meu, apenas acrescentei o que está entre parêntesis rectos, chegou-me acompanhado de um nome e de um título académico. O que interessa é o que está escrito e fica para julgamento.

Se a Grécia entrar em bancarrota, Portugal não dura mais que umas semanas. E continua-se a discutir uniões de facto e casamentos?

De acordo com as notícias desta semana, o governo está empenhado na actualização do regime jurídico do casamento. O PSD está empenhado em ouvir escutas telefónicas para aferir o carácter moral do primeiro-ministro. O PCP e o BE estão empenhados em que os mesmos magistrados que não conseguem guardar o segredo de justiça possam ter acesso às contas bancárias de qualquer pessoa, e a persigam se acharem que ela tem mais dinheiro do que devia. O CDS-PP está empenhado em tornar-se imprescindível nos jogos políticos da Assembleia da República. E os deputados estão empenhados em insultarem-se uns aos outros [e os sindicatos a fingir que negoceiam].

Se me permitem, e se não os distraio demasiado destes afazeres, gostava de recordar aos nossos governantes uns pequenos detalhes. [Mais de] 548 mil portugueses estão desempregados. Cerca de 1,850 milhões de portugueses recebem pensão de velhice, 300 mil recebem pensão de invalidez, e 380 mil recebem o rendimento social de inserção. Para apoiar estes 3,078 milhões de portugueses, trabalham somente 5,020 milhões de portugueses. Por sua vez, a remuneração mensal média de um trabalhador, depois de impostos, está algures entre os 720 e os 820 euros [e o salário mínimo é de 475 euros]. Na população activa, por cada pessoa com um curso superior, existem duas pessoas que têm menos do que a quarta classe [em breve terão o 9º ou o 12º ano de escolaridade].

Talvez estes detalhes da vida das pessoas não sejam demasiado importantes para quem tem o olho na Europa. Mas, em Outubro, Portugal só exportou 2856 milhões de euros em bens; importou 4502 milhões. A riqueza que produzimos num ano não chega para pagar o que devemos aos estrangeiros. De bons alunos vaidosos nas cimeiras internacionais, seria bom que os nossos líderes se preparassem para o novo papel de convidado que foge para a casa de banho quando se aproxima um credor.

Quatro países na UE estão com problemas financeiros semelhantes aos de Portugal, de acordo com as taxas de juro que têm de pagar aos credores. O Reino Unido e a Irlanda responderam com medidas dolorosas, que na Irlanda incluem cortes no salário dos funcionários públicos até 20% [ao nível das estruturas directivas]. A Grécia e a Itália, tal como Portugal, preferem assobiar para o lado. Os especuladores já começaram a atacar a dívida grega e fala-se do risco iminente de bancarrota do país. Se a Grécia cair, Portugal não dura mais que umas semanas.

Eu sei que, infelizmente, muitos comentadores estão há décadas a anunciar o fim da nossa economia, pelo que os governantes estão habituados a ignorar estes avisos. Mas depois de olhar para estes factos, como é que quem jurou servir Portugal pode passar o tempo a distinguir uniões de facto e casamentos, ou obcecado em saber se José Sócrates trata o amigo por “Mando” ou “Varinha”? [Quando o uso que os servidores públicos fazem do poder (a corrupção e a fraude) é que deveria estar em causa e não as opções estritamente pessoais dos cidadãos].

(Ricardo Reis, Professor de Economia, Universidade de Columbia)

Se tiveram paciência para chegar até aqui, leiam também este.

Corrupção

Posted: 21/11/2009 in Análise
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Ao reflectir sobre a corrupção, gostaria de o fazer perspectivando-a como um acto puro, isto é, desligado de quaisquer particularidades, considerando apenas a sua estrutura essencial.
Assim, em toda a corrupção, encontramos um corruptor e um corrompido e a relação que se estabelece entre os dois é a própria corrupção. A oposição entre os dois termos não pode ser suprimida, sem que cada um deixe de ser aquilo que é no interior da relação. Originariamente, os dois elementos da relação estão separados um do outro e só são o que são um em relação ao outro. Não podem existir um sem o outro. Fora da relação, deixam de ser corruptor e corrompido.
A relação de corrupção é dupla, mas não é reversível. No interior de um acto corrupto, o corrupto e o corrompido não podem trocar de posição. A função do corruptor é corromper e a função do corrompido é deixar-se corromper. Entre os dois elementos pode existir, hipoteticamente, um terceiro, chamemos-lhe mediador, que anula a necessidade do encontro face a face entre o corruptor e o corrompido. A função do terceiro elemento, a existir, é a de estabelecer a ligação entre os outros dois.
Todavia, e para continuar esta análise, é necessário não nos deixarmos iludir pela aparência da linguagem.
O facto de linguisticamente o corruptor ser activo e o corrompido passivo, não quer isto dizer que o movimento inicial não parta mesmo do corrompido e do seu desejo de o ser. O corrompido, para o ser, tem de mostrar disponibilidade para tal, daí que possamos dizer que existe actividade por parte dos dois elementos da relação. Quer o corruptor, quer o corrompido podem dar início ao acto.
Além destes dois elementos constitutivos da corrupção, um outro faz parte igualmente da sua estrutura: o objecto do suborno, ou seja, a vantagem; aquilo que origina a relação entre corruptor e corrupto. Qualquer outro elemento (intenção, motivo, finalidade) faz parte da estrutura psíquica do corruptor e do corrupto, não sendo por isso constituinte do acto de corromper.
Para um observador externo, que não pode aceder à estrutura psíquica dos envolvidos, o acto de corrupção é descrito como um movimento mediante o qual corruptor e corrompido tiram vantagens de uma situação circunstancial, apenas porque podem.